06/02/2011 - 12h18
LEANDRO MARTINS
DE RIBEIRÃO PRETO
Usuários de crack estão transformando pontos de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) em áreas de consumo coletivo da droga. São espécies de "minicracolândias", que têm recebido principalmente ex-frequentadores da região da Baixada.
Moradores apontam a área abandonada da antiga Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), na avenida Bandeirantes, e o trecho da avenida Costa e Silva perto da favela do Brejo como os pontos mais problemáticos.
A Folha esteve nos dois locais e encontrou grupos que, segundo moradores, usam os espaços para consumo de droga. A Polícia Militar e a Guarda Civil Municipal também afirmaram ter conhecimento da situação.
Nos antigos galpões da Ceagesp, na Vila Virgínia, cuja estrutura está abandonada e restam apenas paredes em pé, o movimento ocorre mesmo à luz do dia.
À medida que a noite chega, mais pessoas se aproximam do local, quase sempre em duplas ou trios --a maioria aparenta pouca idade e até uma garota grávida se une ao grupo.
Em um intervalo de cerca de três horas, a Folha contou de 35 a 40 pessoas chegando ao local. Parte vai para dentro de um dos galpões e o restante fica do lado de fora, sob árvores ou se esgueirando em um muro.
Com a escuridão, é possível ver a todo momento pontos luminosos --são os cachimbos improvisados em latas de alumínio para consumo do crack.
PROBLEMAS
Moradores da avenida Patriarca, que fica bem ao lado dos galpões abandonados da Ceagesp, afirmam que a área chega a reunir, em uma mesma noite, grupos de até 50 usuários de drogas.
Com medo de represálias, os vizinhos da cracolândia temem se identificar. "Nós não mexemos com eles e eles não mexem com a gente."
Os relatos de problemas causados pela cracolândia, porém, são vários. Até uma espécie de "pedágio" foi criada pelos viciados. Em mais de uma vez, usuários entraram na frente de motociclistas que passavam pela avenida para derrubá-los e, em seguida, roubar.
"Após a queda, eles saem correndo aos montes e roubam o que conseguem."
Outro vizinho diz que fica todas as noites em frente de casa esperando filhos adolescentes chegarem da escola ou do trabalho.
Na avenida Costa e Silva, no trecho perto da favela do Brejo, embora o número de usuários seja menor, as reclamações de moradores do entorno são bem parecidas.
A reportagem esteve no local e encontrou um grupo de quatro homens que, embaixo da marquise de um estabelecimento comercial, fumavam um cachimbo parecido com o usado para consumo de crack.
Um morador disse que já teve a casa invadida e dinheiro furtado por pessoas drogadas. Uma pequena praça no entroncamento da Costa e Silva com a rua João Ribeiro também é escolhida pelos usuários, diz o morador, principalmente por causa da iluminação precária.
Silva Júnior/Folhapress
Usuários de crack na avenida Costa e Silva, um dos principais pontos de consumo em Ribeirão Preto, em SP |
OCUPAÇÃO
A Prefeitura de Ribeirão, que é a atual dona dos antigos galpões da avenida Bandeirantes, diz ter projeto para o uso do espaço, cujo patrimônio é tombado.
A secretária da Cultura, Adriana Silva, disse que está perto de sair a liberação de R$ 330 mil, via Ministério do Turismo, para o início de obras no entorno do local.
A recuperação do entorno, diz ela, permitirá usar a área para atividades, mesmo sem o restauro total, que pode custar até R$ 6 milhões.
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